10.10.06

Há muito tempo tenho este texto guardado e sei que seu exemplo foi e continua sendo muito útil para mim até hoje. Na verdade ele retrata uma situação que acontece em vários segmentos profissionais.
Leiam. Vai valer a pena!



O BICHINHO DO Ã-RÃ

O chefe de reportagem de um jornal carioca decidiu dar uma chance à estagiária recém-chegada da PUC que, além de esteticamente jeitosa, adentrava a redação com um desembaraço de quem tem mesmo jeito para a profissão:

- Você conhece o trabalho de Claude Monet?

- Ã-rã.

- Sabe a importância que ele teve no movimento artístico impressionista?

- Ã-rã.

- Então eu queria que você fizesse uma grande reportagem para a edição de domingo sobre a exposição de Monet no Museu Nacional de Belas Artes, o.k.?

- Ã-rã. Você tem o telefone dele?

- Dele quem?

- Do Cloude, uai!

Calcula-se que 97% dos universitários diplomados chegam ao mercado de trabalho pós-graduado em "ã-rã", um recurso de oratória freqüentemente utilizado em barzinhos de faculdade por quem não está entendendo a conversa, mas tem vergonha - ou preguiça - de pedir esclarecimento. Inofensivo na hora do recreio, o truque pode ser fatal quando empregado em ambiente de trabalho.

Ao invés de repórter contratada, a estagiária da PUC virou piada em todas as redações cariocas por causa desta história de querer entrevistar alguém que morreu em dezembro de 1926. Talvez não tivesse abortado prematuramente a sua carreira se, humildemente, perguntasse ao chefe quem é mesmo Claude Monet. Melhor desconhecer o defunto do que tentar falar com ele, não é?

Eis um conselho a quem está batendo a porta do mercado de trabalho: Pergunte, encha a paciência dos mais experientes ao seu redor, pois é assim que se aprende. O pior ignorante é aquele que finge entender o que não sabe - este não tem cura.

A autoconfiança é uma burrice que a gente aprende na escola. Leva a fama de burro - ou chato - o menino que levanta o dedo para tirar duvidas, que, em geral, são de todos na classe. O brasileiro, como se sabe, tem a pretensão de já nascer sabendo.

Vivemos em um país de gente sabida, mas não se iluda, quase todo sujeito competente no trabalho foi um chato em sala de aula. Vence na vida quem diz "não". "Não" entendi, "não" sei, "não" conheço, "não" fui, "não" disse, "não" vi, "não" li, "não" sei como escrever...

Tem futuro também, quem procura saber quem, quando, como, onde e por quê. Vamos lá: tente, pergunte, revele-se, aprenda. Fique inseguro, libere seu nervosismo, nenhum trabalho é bem realizado quando quem está por trás dele não tem dúvidas sobre o acerto daquilo que está fazendo. Não deixe que o bichinho do "ã-rã" faça de você um bobão do mercado de trabalho.


(Autor desconhecido - recebido por email)

4.10.06


A MOSCA E O TIGRE

Sempre fui uma pessoa muito inconstante quanto aos meus hábitos de vida. Nunca seguí uma linha exata sobre o que vestir, comer, até o perfume que uso, troco constantemente. Nunca fui apegado a requintes. Trânsito bem em todos os lados. Cachaça ou uísque, degusto sem maiores dificuldades. Meu cotidiano também não segue uma rotina pré-estabelecida. A profissão não me permite esse capricho. Por isso, também não mantenho um cardápio fiel na minha alimentação. Mas me viro bem desde um sarrabulho até a culinária japonesa.

A minha forma de interpretar o mundo não foge muito desta “des”regra. Leio o mundo a cada instante de uma forma totalmente diferente de um minuto atrás. Fico analisando tudo que vejo, escuto e, principalmente, sinto.

Por causa da minha rotina, aliada aos meus péssimos hábitos alimentares, hoje acabei, por preguiça e também conveniência, almoçando no escritório.

Pedi comida chinesa. Não por opção, mas era o único restaurante que entregava no horário. Já eram quase duas da tarde quando fiz o pedido. Bem mais do que isto quando o entregador chegou.

Depois de quase queimar minha língua com cebola e molho de tomate no afã de matar a fome retardada, passei a vista sobre a mesa e encontrei aquele famoso biscoitinho chinês que vem, segundo a crença oriental, com uma mensagem de sorte para a sua vida. Quando quebrei o biscoito (tem que quebrar) puxei o papel que, para minha surpresa, eram dois. Como manda o ritual, fiquei apenas com um. Enquanto comia o biscoito (pode comer mesmo), li atentamente o que dizia “a minha sorte”: “Não mate a mosca que pousa na cabeça do tigre”. Na hora comecei a rir. Aquilo não me dizia nada. Depois comecei a incorporar o tigre e perceber as diversas moscas que passaram e ainda estão sob minha cabeça.

Os tigres são animais da espécie dos "grandes gatos". São caçadores noturnos e apesar de seu grande tamanho, podem se aproximar de suas presas em completo silêncio.

A mosca é um dos
insectos mais comuns e tem sido, durante os tempos, responsável por inúmeras propagações de doenças.

Inicialmente, fiquei extremamente irritado quando recordei das moscas da minha vida. Depois comecei a perceber o valor que elas tinham. Como o tigre mostraria sua força se não fossem as moscas que teimam em pousar em sua cabeça? A vida sem os taís membros da ordem Diptera não teria o mesmo valor. Não existiriam obstáculos a serem superados. A vida com as moscas tem mais sabor. Muitas delas nem são percebidas, ficam sob nós por muito tempo, quase como parasitas, sugando o que há de melhor em nós. O de pior também. Pobres coitadas. A maioria não consegue levantar vôo sozinha. Acham que o tigre um dia vai alçá-las ao sucesso. Pobres coitadas. Não veêm que o tigre é quem tem os dois pés, ou melhor, as quatro patas, firmes no chão. Concretadas por sua força e sagacidade. O tigre não perde todo o seu tempo em busca de um pequeno nincho de alimento. Ele busca saciar por completo a sua fome, mesmo que precise aguardar para dar o bote no momento certo.

Venham moscas! Pousem sobre a cabeça do velho tigre. Talvez seja esta a sua última chance.

2.10.06


É TEMPO DE ORAR

É mais que comum hoje em dia deixarmos passar despercebidas as coisas que verdadeiramente nos importam. Vivemos como um furacão. Mal se come, mal se dorme, mal se ama e muito pouco se ora. Falo da oração que vem de dentro, desligada de qualquer conceito religioso. À margem do mecanicismo dos modelos empurrados goela abaixo por toda a nossa vida.

Certamente surtem efeito, mas falo de conversar ao pé do ouvido, de pegar nas mãos de Deus. Falo de desejar o bem, de fazer o bem. De olhar com carinho para quem está perto do coração.

Para isso não precisamos de tempo. Não é necessário desfazer as nossas complicadas agendas cotidianas, nem atrasar os nossos importantes trabalhos, projetos, estudos... Tudo aquilo que usamos como desculpas quando não nos dispomos, realmente, a fazer alguma coisa.

É preciso saber falar sem precisar soltar a voz. Pedir sem precisar estender as mãos e ficar feliz com o presente que vem para outros. É preciso pedir com o coração e saber agradecer com a alma. Felicitar ao seu Deus pelas coisas da vida, seja ele como for. Se não acreditares em Deus, agradeça à vida.

Orar não requer forma nem tempo. Não precisa de receitas pré-definidas. Não exige religião. Não está atrelada a classe social. Orar é democrático. Requer apenas sentimento. Um sorriso, um abraço, um aperto de mão. É um puro olhar que se cruza. Um outro olhar relembrado. É viver em harmonia. É desejar um encontro, ou até um desencontro. É saber dizer sim e dizer não.
É olhar para si e desejar que o outro seja feliz e que sua felicidade irradie em todas as direções. E aí, perceberemos que viver é simples e que, mesmo com todos os percalços do dia a dia, é sempre um bom momento para orar.