11.2.09

“MARÉ DE SORTE”


Sabe aquele tipo de gente que não se abala por nada? Que tudo sempre está bem e nada consegue estragar o que a vida tem para oferecer de bom? Praticamente um Joseph Klimber?! Pois é! Durante muito tempo me enquadrei neste perfil. Bom astral, de bem com a vida, acreditando que tudo sempre iria dar certo. A personificação do otimismo.

Os amigos sempre dizem que nunca me viram zangado, com cara emburrada ou coisa assim.

Um cara de sorte. É como sempre me vi. Mas comecei a achar que esta sorte tem trazido, nos últimos meses, vários incômodos. O pior de tudo é que esta sorte anda aumentando cada vez mais.

No último ano, especificamente no final do mês de outubro, comecei meio que de surpresa uma reforma em minha casa. O que seria uma pequena obra para reparos em alguns cômodos, foi transformada em uma construção que deixou apenas quatro paredes originais da casa de pé. Telhado, quartos, banheiros, piso, pias, vasos... E por aí vai a reforma. Ou melhor, por aí ela ainda vem.

Três meses de atraso na entrega da obra. Mas "por sorte minha", como dizem os amigos, o tempo excedido é muito pouco comparando com o que acontece normalmente nestes casos. O problema é que só me programei para gastar até os meses combinado e agora começou a fase do acabamento. Acabamento do dinheiro.

Outra coisa para a qual também não havia me programado era para lidar com ladrões roubando o material de construção comprado e pago com o meu suor. Mas "por sorte" os gatunos não haviam invadido a minha casa. Até o momento em que invadiram e um deles foi surpreendido pelos pedreiros que chegavam de manhã cedo para trabalhar. Liguei para a polícia que "por uma grande sorte" compareceu ao local em pouco mais de uma hora, me deixando este tempo todo com o ladrão olhando para a minha ‘cara’ e, certamente, bolando planos para se vingar. Segundo o meu cunhado, tive “bastante sorte” por ficar sabendo quem me roubava, pois segundo sua teoria, agora o gatuno vai andar de olho bem aberto com medo de mim. Medo de mim? O marginal é ele. Muito interessante a teoria.

Depois de ser solto por causa da greve da polícia civil (dei "muita sorte" neste período porque mesmo em greve eles registraram o boletim de ocorrência. Tudo bem que soltaram o cara no outro dia) o bandido ainda voltou lá em casa e roubou um ventilador do quarto do vigia que, obviamente, como de costume, dormia. O ventilador (o segundo – o primeiro foi roubado anteriormente junto com o material de construção) foi furtado e acredito que por contagio, o vigia, que guarda um facão que mais parece uma espada samurai embaixo da cama e já havia prometido cortar as mãos do ladrão, "deu sorte" e não acordou.

Mas como “toda a sorte do mundo" é minha, o que ele levou foi pouca coisa e, como meus familiares falam, com trabalho eu recupero tudo depois. Eu só não queria era ter que trabalhar com esta finalidade. Queria trabalhar para construir e adquirir coisas novas mesmo.

Ainda por feitio da "sorte", enquanto vasculhava a casa para ver se dava conta do sumiço de mais alguma coisa, encontrei em meio à bagunça da reforma, uma caixa onde estava toda a minha coleção de revistas e livros sobre fotografia que venho montando durante mais ou menos uns quinze anos. Por causa da mudança do telhado que coincidiu com a época de chuva (será que foi sorte ou planejamento?), as frestas no telhado ainda não acabado formaram uma ‘cachoeira’ bem em cima do local onde estava guardado o material e, logicamente, "por muita sorte, muita sorte mesmo”, as revistas mais novas - aquelas que a gente ainda consegue comprar através dos sites das editoras ou encomendar nas bancas de revistas – ficaram praticamente intactas. As mais antigas, as de dez a quinze anos, não. Essas a água dissolveu por completo e não tem mais como pedir na editora.

Mas, observando tudo de perto, um dos pedreiros me consolou:

- O 'sô' teve foi sorte! Só molhou as 'véia'.

Para melhorar ainda mais, no último sábado, saindo de casa para tomar um sorvete com a família... Sinal fechando, trânsito parando, parando, não parando... Pow!!! Bateram no meu carro e me jogaram na traseira do carro da frente. Desci do carro apressado e ainda vi quando um grupo de garotos com seus vinte e poucos anos fugia desesperadamente se espremendo entre os outros carros. Eles bateram no carro de trás do meu e também o jogaram para frente. Por "sorte" só quebraram meu pára-choque traseiro, amassaram a tampa do porta-malas, os dois pára-lamas traseiros, o pára-choque dianteiro foi amassado, a grade do capô quebrou, a grade de ventilação e várias outras coisas foram para o espaço. Mas como tenho tido uma "sorte descomunal", nada além disso. Segundo o policial militar que registrou o B.O (boletim de ocorrência), como o motorista que causou o acidente “se evadiu-se” do local e o carro é do Rio Grande do Sul, cada um dos envolvidos vai ficar com o seu prejuízo. Mas como disse minha sogra foi "muito bom" não ter que arcar com a despesa dos outros (neste caso, muito bom deve ser igual a muita sorte). "Sorte grande" mesmo para quem só iria gastar no máximo uns R$ 20 com os sorvetes.

Melhor que tudo isso foi, enquanto fazia a cobertura de um evento, ver a nova lente da minha câmera fotográfica também nova, recém comprada, cair no chão e espatifar o filtro que estava acoplado na mesma. Ufa, “que sorte!” Só quebrou o filtro. A lente ficou intacta e o acessório que se esfarelou custa apenas R$ 120,00 e pode ser comprado a qualquer momento... Fora do Brasil. Ah! A câmera também foi ao chão, mas não sofreu nenhum dano devido ao suporte do tripé estar preso em sua base e tê-la protegido.

Pra abrilhantar ainda mais a série, na segunda sexta-feira de fevereiro, que por uma grande coincidência foi dia 13, enquanto eu ia para o trabalho pela manhã por uma das intrafegáveis avenidas da cidade, de repente um grande impacto no capô do meu carro quase me faz causar um acidente. Não! Não bati o carro novamente. Foi apenas um galho de uma das árvores que ficam no canteiro central da avenida que despencou sobre o meu carro durante uma leve chuva. Lógico que amassou e arranhou a pintura, mas segundo minha cunhada que pegou uma carona comigo e só por isso eu dirigia por aquela via, já que a mesma não faz parte do meu trajeto habitual, dei “muita sorte” de não ter sido o tronco da árvore. Sei não! Do jeito que as coisas estão estranhas, não ficaria surpreso se caísse a raiz da árvore em cima de mim.

Estou com muito medo dessa "maré de sorte" que vem me acompanhando nos últimos meses. Fico preocupado em acabar fazendo parte das estatísticas como a primeira pessoa do mundo a "morrer de sorte".

Mas continuo otimista.